Não passou despercebida por parte da população de Foz do Iguaçu a retirada do Monumento à Democracia, instalado na Praça Naipi, situada na confluência das avenidas República Argentina e Costa e Silva, área central da cidade, na quarta-feira, 29.
Leia também: Enquanto árvores caem, Foz espera seu plano de arborização
A atitude da prefeitura rendeu uma saraivada de críticas procedentes de entidades, vereadores, professores e intelectuais de Foz do Iguaçu.
O monumento foi inaugurado em 2010, em uma solenidade que teve a presença do então governador do Paraná Orlando Pessuti; de Jorge Samek, que estava na direção geral da Itaipu; e do prefeito de Foz na época, Paulo Mac Donald Ghisi, além de outras autoridades.
De acordo com a Secretaria de Meio Ambiente, a escultura foi retirada porque a praça passa por uma revitalização. Em julho, já haviam sido removidos chafariz e bancos. O painel da Lenda das Cataratas também recebe melhorias, segundo a prefeitura.

Na ocasião, o município informou que bancos e mesas velhas foram sacados porque comprometiam a estética e funcionalidade da praça. Também mencionou que a população de rua que ali se encontrava estava sendo atendida.
Quanto ao destino do monumento, não se sabe ainda se será colocado de volta na praça ou em outro local, de acordo com informações repassadas pelo setor de comunicação da administração ao portal H2FOZ.
O Monumento à Democracia surgiu a partir de um projeto proposto pelo ex-vereador José Carlos Neves, com o apoio do Centro de Direitos Humanos e Memória Popular (CDHMP), na época presidido pelo jornalista Aluízio Palmar.
Monumento é contraponto à ditadura
Professor de História da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), Paulo Renato da Silva conta que a obra tem uma história curiosa. Originalmente, diz, ela foi concebida como a pedra fundamental de um projeto maior, que seria a construção de um monumento em uma rotatória planejada para o cruzamento das avenidas Paraná, República Argentina e Costa e Silva.
Contudo, o projeto nunca foi concretizado, e a pedra fundamental acabou tornando-se a própria escultura. Para o professor, o monumento na Praça Naipi tem um papel significativo na cidade por ser símbolo da resistência de quem enfrentou a repressão e foi perseguido ou morto pelas ditaduras militares da América Latina. “A população tem o direito de conhecer essa versão da história, que muitas vezes é esquecida”, frisa.

Silva ainda lembra que em Foz do Iguaçu há várias homenagens a figuras como Castelo Branco, Costa e Silva e Costa Cavalcanti, todas associadas ao período da ditadura militar brasileira.
Ele ainda lembra que Foz do Iguaçu foi palco da repressão durante o regime militar, como ficou evidenciado a partir da visita da Comissão da Verdade, em 2013. Os depoimentos coletados indicaram a ocorrência de graves violações aos direitos humanos no 34.º Batalhão, ressalta o professor.
Para ele, o monumento da Praça Naipi deve ser reinstalado no lugar original, que é um ponto de grande simbolismo: em frente à Avenida Costa e Silva, a qual homenageia o segundo presidente da ditadura de 1964, e próximo aos muros do 34.º Batalhão, um dos centros de repressão durante aquele período.
Manifestações públicas
Em nota pública emitida, o curso de História da Unila afirma que “monumentos não pertencem a governos, mas à sociedade civil. A remoção do monumento representaria uma tentativa de silenciar as memórias e resistências que compõem o patrimônio histórico e simbólico da cidade”.
A vereadora Yasmin Hachem encaminhou requerimento ao prefeito Joaquim Silva e Luna solicitando explicações sobre a retirada da escultura.
O advogado Carlos Alberto Oliveira enviou, ao Ministério Público do Paraná (MPPR), pedido para instauração de procedimento para verificar a legalidade e o motivo da remoção.