Bispo emérito de Foz do Iguaçu, Dom Olívio Aurélio Fazza refletiu sobre fé em equilíbrio com as causas humanas durante entrevista para o jornal Nosso Tempo, em 1984. A edição, às bancas no mês de novembro, foi a de número 147 do semanário.
Dom Olívio foi escolhido em 1978 para dirigir a Diocese de Foz do Iguaçu, ficando à frente até 2001, quando se tornou emérito. Ao jornal, abordou o papel e as prioridades da Igreja, educação, família e problemas sociais.
Nos anos oitenta, Foz do Iguaçu sofria a explosão populacional com a construção da Itaipu Binacional. Resultado: crescimento desordenado, inchaço das periferias e serviços públicos e estrutura urbana insuficientes. Desigualdades.
Eram tempos conflituosos no campo e na cidade, como a marcha dos colonos que pediam justiça nas desapropriações de terras pela usina e os acampamentos de pequenos produtores que pleitevam terra para plantar. O município virava a página do regime dos interventores, voltando a eleger prefeito com o voto popular em 1985.
Ao Nosso Tempo, o bispo discorreu sobre o plano pastoral para aqueles anos. Destacou o trabalho da Igreja Católica no campo social, como a Creche Mamãe Carolina, cursos profissionais, iniciativas contra a fome e as ações das pastorais.
O aspecto organizativo da Diocese enfocava grupos de reflexão e as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). A ênfase era a questão da família, a formação de agentes de pastoral social e a presença da Igreja no mundo do trabalho.
Dom Olívio Fazza
Quanto aos problemas de então no seio das famílias, Dom Olívio afirmou que tinham mais relação com o que chamou de perversidade das estruturas sociais do que com aspectos morais da população. E ponderou que a Igreja não buscava reduzir sua missão ao campo exclusivamente social ou religioso.
“Antigamente, a libertação no seu aspecto humano era menos enfocada”, pontuou. “Hoje, da mesma forma que se busca a libertação do pecado, busca-se a libertação do homem das formas de escravidão impostas pelas estruturas sociais, políticas e econômicas. Temos uma visão global mais perfeita do homem e da sociedade”, expôs.
Questionado se era um religioso progressista, respondeu que renunciava aos rótulos. “Realmente, não me agrada a qualificação de progressista e conservador. Eu me consideraria um moderado. Deus quer dar o céu aos homens, mas Ele também quer que os homens vivam plenamente a vida na terra”, salientou Dom Olívio.
O bispo Dom Olívio Aurélio Fazza interveio com diálogo e mediação durante vários conflitos e questionamentos sociais em Foz do Iguaçu e na região. O principal foco era a luta pela terra.
Agricultores sem terra montaram acampamento em São Miguel do Iguaçu e nos pátios da Igreja Matriz de Medianeira, reunindo 30 e 60 famílias, respectivamente. Em Foz do Iguaçu, um dos focos era a posse de uma área no Lote Grande.
Ele acompanhou integralmente a marcha e acampamento dos pequenos colonos da região em Foz do Iguaçu, contrários aos valores pretendidos para a desapropriação de suas terras pela Itaipu. O bispo afirmou que todos esses movimentos davam exemplo.
Para ele, tratava-se de um sinal de caridade elevada. E recorreu ao Evangelho: “Tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber, era peregrino e me agasalhastes…”.
A entrevista terminou com o religioso católico reafirmando os objetivos pastorais na virada da primeira para a segunda metade da década de 1980. “Evangelizar o povo visando à construção de uma sociedade justa, fraterna e reconciliada com Deus”, concluiu Dom Olívio.
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